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12 de agosto de 2016Muitos pais ficam alarmados ao perceber que a criança está com febre e logo recorrem aos medicamentos para acabar com este sintoma. Mas será que essa atitude é a recomendada pelos pediatras?
O objetivo desse texto é chamar a atenção para o uso exagerado de remédios para febre (antitérmicos ou antipiréticos). Isso se deve, provavelmente, à crença de que a febre é um sintoma muito ruim e precisa desaparecer rapidamente. Essa crença é tão forte que já existe um termo para descrever esse medo da febre, que seria a “febrefobia”.
Febre é a elevação da temperatura do corpo acima da variação diária normal. É uma resposta fisiológica complexa à doença, caracterizada por uma elevação regulada da temperatura e ativação de sistemas imunológicos. É benéfica porque é parte de um sistema que ativa as defesas do organismo. Ao contrário do que muitos pensam, tem baixa probabilidade de causar danos (a possibilidade de danos neurológicos existe somente a partir da temperatura de 42ºC). Além disso, há evidências de que a supressão medicamentosa da febre provavelmente aumentaria a gravidade da infecção.
Pesquisas mostram a preocupação exagerada de muitos pais com febres baixas, que seria a temperatura axilar em torno de 38,5°C, fazendo com que meçam a temperatura mais do que de hora em hora durante episódios febris; 25% administram antipiréticos para crianças com temperatura normal, abaixo de 37°C; 67% dos pais afirmam alternar drogas antipiréticas (em geral, acetaminofeno e ibuprofeno), prática não recomendada nos consensos de especialistas. A maioria dos pais afirma que usa antipiréticos seguindo a orientação dos pediatras. Considero oportuno o relatório da Academia Americana de Pediatria, de 2011, endossado pelo Departamento de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria, que recomenda aos pediatras minimizar a chamada “febrefobia”, promovendo o manejo seguro e racional da febre.
As condutas gerais frente à criança febril têm três objetivos principais:
– reconhecer sinais de doenças potencialmente graves;
– melhorar o conforto da criança;
– manter um estado adequado de hidratação.
O primeiro objetivo exige o reconhecimento de sinais de alerta de gravidade: idade inferior a três meses, principalmente recém-nascido; febre de mais de 39,4°C (especialmente se acompanhada de calafrios); mau estado geral, com letargia e/ou irritabilidade excessiva, ausência de sorriso; pele muito pálida; choro inconsolável; respiração gemente, entrecortada ou ofegante; duração da febre maior que 72 horas. Nessas circunstâncias, a criança deve ser levada imediatamente para avaliação médica.
Crianças com febre não devem ser despidas ou muito agasalhadas. Caso a criança febril sinta frio, pode ser protegida com um cobertor. O ambiente deve ser bem ventilado; a criança pode ficar ao ar livre, sem exposição direta ao sol.
Líquidos de qualquer natureza devem ser oferecidos com frequência. A oferta de comida deve respeitar a aceitação natural; lembrar que drogas antipiréticas não melhoram o apetite.
Falando nesses, como fica o uso dos antipiréticos? Segundo o relatório, os remédios não devem ser utilizados com o objetivo de reduzir a temperatura em si em crianças que pareçam estar se sentindo bem. Devem ser reservadas para crianças com desconforto físico ou dor. Há um consenso de que antipiréticos devem ser reservados para febres acima de 38,2°C (essa é a recomendação da Organização Mundial da Saúde), mas principalmente para minimizar o desconforto. O relatório recomenda também que não se use mais de um medicamento, intercalando drogas diferentes, já que os resultados são clinicamente desprezíveis e há risco de dano aos rins e de erros de dosagem por confusão dos cuidadores.
Em resumo, a febre deve ser considerada benéfica em princípio, e o uso de antipiréticos deveria ser reservado para as crianças com temperatura a partir de 38,2ºC e com dor ou desconforto. Espero ter trazido informações úteis para que, frente à criança com febre, nossas condutas sejam tranquilas e bem pensadas, decididas em conjunto com os pediatras de seus filhos.
Joel Bressa da Cunha – Médico
Membro do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria
Presidente do Comitê de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro