A gagueira surge sempre na infância, num período que vai aproximadamente dos 2 aos 5 anos.

Nesse período, os pequenos começam a formar frases maiores e mais elaboradas e ocorre a aquisição de habilidades complexas e necessárias para organizar a linguagem e utilizá-la em situações sociais. É normal esquecer-se de algumas palavras e não apresentar total fluência na fala, demonstrando insegurança ao se expressar.

A disfluência infantil, habitual na época de aquisição da linguagem, tem recuperação espontânea e tende a diminuir logo que a linguagem se desenvolva.
Já a gagueira infantil surge na mesma época e tem características semelhantes às da disfluência infantil, o que torna difícil o diagnóstico diferencial. Acredita-se que algumas crianças já trazem em seu código genético a tendência para gaguejar e são estas que não têm recuperação espontânea, persistem desenvolvendo gagueira e tornando-a crônica.

A discussão sobre as características que diferenciam a disfluência infantil da gagueira é intensa entre os especialistas da área e relevantes pesquisas têm sido conduzidas em várias Universidades do mundo.

A incidência de gagueira no mundo justifica essa preocupação, já que pesquisas recentes comprovam que por volta de 1% da população do mundo tem gagueira, o que é considerado um número significativo.

Outra comprovação diz respeito à maior ocorrência de gagueira em indivíduos do sexo masculino. A cada quatro meninos que desenvolvem gagueira uma menina apresenta o problema.

A gagueira pode surgir repentinamente, de forma intempestiva sem que haja um fator que a precipite. O senso comum tende a acreditar que um trauma físico, uma queda, por exemplo, um susto ou uma forte emoção pode ser responsável pelo surgimento da gagueira. Isto não é aceito pela comunidade científica.

Uma das características da gagueira é a oscilação: ela não se apresenta em todas as ocasiões e sua intensidade varia. Na maioria dos casos, os bloqueios desaparecem, por exemplo, quando a criança canta, pois estão relacionados ao momento da comunicação – como alguma situação na qual o pequeno se sinta intimidado, seja por uma atitude pouco receptiva do interlocutor ou pela emoção que sente em relação ao tema. E fatores como a pressão dos pais ou professores para “falar corretamente”, corrigindo ou mesmo recompensando quando a criança se expressa com fluência, podem piorar o problema.

Até bem pouco tempo, especialistas aconselham os pais a esperar, e o tratamento indicado apenas se o problema persistisse após a idade pré-escolar. No entanto, segundo estudo conduzido por mais de 20 anos, a intervenção deve vir, de preferência, antes dos 4 anos, para evitar que a gagueira se estabeleça e ocasione transtornos secundários como ansiedade ou sentimentos negativos em relação à comunicação e à convivência social, prejudicando a autoestima.
Pesquisas também têm revelado que os gagos são, em geral, mais sensíveis e reagem emocionalmente com mais intensidade do que os não gagos.

A gagueira infantil é um problema que surge com considerável frequência e que requer tratamento especializado. A terapia direta é a mais indicada, embora com frequência os pais precisem de orientação e participação no processo terapêutico.

Mesmo em crianças pequenas e, ainda que não tenha sido diferenciada da disfluência infantil, a gagueira precisa ser avaliada, identificada e a ação muscular que a forma deve ser trabalhada em direção ao equilíbrio.

Para os pais que tenham crianças com problemas de disfluência, recomenda-se falar de forma clara com a criança e dar tempo para que ela organize suas palavras. Conversar um pouco mais devagar, articulando bem as palavras, para oferecer um modelo lento de fala, com pausas, que possa ser imitado, também é uma boa orientação.  Essas atitudes, em geral, se mostram eficazes para deixar as crianças  mais tranquilas e conseguir que elas se expressem com mais fluência.

 

 

Compilação de textos retirados do site da Associação Brasileira de Gagueira – artigo Gagueira Infantil por Isis Meira e  da matéria  Gagueira infantil de Alicia Fernández Zúñiga da  revista  Scientific American – Mente e cérebro, veiculada pelo portal UOL.